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Monitoramento de florestas por satélite flagra, em média, um desmatamento a cada dois dias no Rio

Monitoramento de florestas por satélite flagra, em média, um desmatamento a cada dois dias no Rio

Ataques à natureza são ainda maiores na Zona Oeste, especialmente, em Guaratiba

RIO - O desmatamento de cinco mil metros quadrados fica numa área escondida de Guaratiba, impossível de ser vista das principais vias que cortam o bairro. Na região, a atuação da milícia amedronta moradores, que temem denunciar o descalabro. Mas, na semana passada, a área foi um dos alvos de uma operação do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) graças a imagens de satélites que têm revelado ataques à natureza mesmo nos lugares mais remotos do Rio. Usadas no apoio à fiscalização desde o segundo trimestre de 2016, elas integram o projeto Olho no Verde, que monitora cerca de oito mil quilômetros quadrados de unidades de conservação e fragmentos de florestas fluminenses. Nesse período, elas já ajudaram a detectar que é na cidade do Rio que a flora sofrem mais ameaças. Na capital, as pressões são ainda maiores na Zona Oeste, especialmente, em Guaratiba e no entorno do Parque Estadual da Pedra Branca, devido ao avanço das construções irregulares e da extração ilegal de materiais como saibro e areia. Mas o descaso com o verde se espalha por todo o estado, até nos municípios mais rurais.

EM GUARATIBA, 50 ALERTAS EM UM ANO E MEIO

Contra esses crimes ambientais, o projeto virou um novo e poderoso aliado, capaz de constatar derrubadas na mata em fase inicial. Toda vez que um corte de árvores é identificado nas imagens, são gerados alertas. Em pouco menos de um ano e oito meses, aproximadamente 540 deles foram selecionados para vistorias do Inea. Em 340, um a cada dois dias, foi confirmada a supressão de vegetação ou intervenções irregulares, numa área equivalente a 97 hectares — ou a 97 campos de futebol. Apenas em Guaratiba, foram 26 registros em novembro, e outros 24 até o último dia 14 de dezembro. Ou seja, em um mês em meio, a região teve 9,2% de todos os avisos que foram fiscalizados.

— Só nos últimos alertas, a vegetação degradada se equipara a dois campos de futebol. Pode parecer pouco numa grande área de floresta, mas significa muito num lugar com a mata bastante reduzida e dispersa. Em Guaratiba, o desmatamento aumenta. Enquanto no estado como um todo, até como efeito da prevenção feita com as fiscalizações, os números parciais de 2017 mostram que a área devastada pode ser menor do que os 71 hectares do ano passado — afirma Rafael Ferreira, subsecretário estadual do Ambiente. — A região, com forte presença de grupos criminosos, sofre principalmente com a abertura de loteamentos, quase sempre irregulares — explica ele.

A grande clareira encontrada na mata na última quinta-feira, segundo os fiscais, tinha sinais evidentes de que, num futuro próximo, seria transformada em um condomínio, à revelia das permissões do poder público. Na operação — feita em conjunto com a Secretaria estadual do Ambiente (SEA), a Coordenadoria de Meio Ambiente da prefeitura e o Comando de Polícia Ambiental (CPAM) —, os agentes encontraram um muro com um portão metálico, no qual estava a inscrição “particular”. Não havia ninguém no terreno, localizado no fim do Caminho José Domingos, próximo à Estrada da Capoeira Grande, nos fundos de onde seria o Campus Fidei, em que aconteceriam as missas do Papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude de 2013, transferidas na época para Copacabana.

Do lado de fora, já se percebia o estrago. Mas, só quando os fiscais abriram o portão e começaram a subir o morro, onde o resquício de Mata Atlântica vinha sendo rasgado pelas máquinas, é que se teve dimensão exata da derrubada. Havia indícios de que parte da destruição era recente e, provavelmente, prosseguiria. Foi encontrada também uma pequena construção vazia e uma garagem, com um caminhão e peças de veículos. Da parte mais alta da área, era possível avistar o restante do morro, ainda coberto de verde, além de parte dos bairros de Guaratiba e Pedra de Guaratiba, com a Baía de Sepetiba ao fundo.

— Ao que tudo indica, estavam sendo abertas vias para a construção de um condomínio clandestino e a extração de substância mineral. A atividade foi embargada. Vamos voltar ao terreno até que os donos sejam identificados, podendo gerar multas e implicações na Justiça — afirmou Gilbert Santos, da coordenadoria de fiscalização do Inea.

No mesmo dia, as equipes divididas em cinco grupos vistoriaram outras nove áreas apontadas pelas imagens de satélite, oito delas em Guaratiba e uma em Inhoaíba, também na Zona Oeste. Em todas, foi verificado o corte da vegetação sem autorização. Em uma delas, uma pessoa foi detida e levada para a 43ª DP (Guaratiba). Em Inhoaíba, bairro com forte presença de milícias, o desmatamento ficava nos fundos de um loteamento na Estrada Dicurana, aparentemente irregular. Provavelmente, seria o espaço para novas construções.

— Além do trabalho pontual de vistoria e autuação, passamos informações para o Ministério Público estadual, que apoia o projeto. Muitas vezes, esses crimes acabam relacionados a outros (como milícia e tráfico, por exemplo) — diz Rafael Ferreira. — A intenção é flagrarmos os desmatamentos ainda em fase inicial e preveni-los, criando um efeito Big Brother, de monitoramento constante, mesmo nas áreas mais distantes.

Rafael explica que o Olho no Verde funciona com base em varreduras feitas semanalmente por quatro satélites de uma empresa americana, que são enviadas para o Laboratório Espaço de Sensoriamento Remoto e Estudos Ambientais (Espaço), no Departamento de Geografia da UFRJ. As imagens de alta resolução, que permitem que o corte de uma única árvore possa ser observado, são comparadas regularmente. Toda vez que uma diferença no padrão de cor é constatada, com perda de cobertura verde, são criados os alertas, posteriormente checados em campo pelos fiscais do estado.

Na cidade do Rio, além de Guaratiba, Campo Grande e Santa Cruz são outras áreas preocupantes. Depois da capital, os municípios com mais alertas são Rio Claro, Mangaratiba, Angra dos Reis e Paraty, todos no Sul Fluminense e com grandes áreas de florestas. Na região, o Parque Estadual Cunhambebe — o segundo maior administrado pelo governo do estado, atrás apenas do Parque dos Três Picos — é um dos mais ameaçados.

Só em outubro deste ano, tinham sido gerados 42 alertas nessa região, o que desencadeou, mês passado, uma operação dentro da unidade de conservação e no seu entorno. Em uma das vistorias em Rio Claro, no interior do parque, foi achada uma área de desmatamento de aproximadamente 15 mil metros quadrados, que seria destinada à expansão de pastos.

EXPANSÃO URBANA, A AMEAÇA EM ANGRA

Em Angra, o Inea diz que o surgimento de comunidades carentes e a expansão dos núcleos urbanos são os principais motivos das tensões. Já nas áreas rurais, afirma o instituto, o perfil dos desmatamentos está, quase sempre, relacionado com a agricultura e a pecuária. Em Valença, no Vale do Paraíba, por exemplo, uma das grandes áreas descobertas por meio do Olho no Verde ficava a mais de cinco quilômetros da entrada de uma fazenda.

— O fazendeiro se surpreendeu porque não pensava que alguém pudesse denunciar o corte de árvores ali. Mostramos que, na verdade, tínhamos as imagens — contou o subsecretário.

Já em Paraty, as equipes flagraram um grupo cortando árvores para vender a madeira, numa área de seis mil metros quadrados. Os responsáveis foram presos em flagrante. Em outra agressão à natureza detectada pelo Olho no Verde, eram 7.700 metros quadrados que dariam lugar à pastagem em São José do Turvo, em Barra do Piraí. Em Angra, os satélites detectaram um trecho de 3.700 metros quadrados da Ilha do Pai onde houve derrubada de árvores. No passado, o lugar era alugado pela Ilha de Caras.

Neste momento, afirma Rafael Ferreira, o Inea busca parcerias com os municípios e órgãos federais para ampliar o alcance do projeto. Um dos objetivos é chegar a desmatamento zero de Mata Atlântica no Rio.

Fonte: Jornal O Globo - https://oglobo.globo.com/rio/monitoramento-de-florestas-por-satelite-fla...

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