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BULLYNG NÃO É NORMAL

ANDRÉ CORRÊA - Autor da Lei que obriga escolas a notificar casos de bullyng.

A tragédia de Realengo trouxe à tona uma discussão sobre algo que sempre aconteceu nas escolas, mas que de um tempo para cá ganhou um nome sem tradução para o português: o bullyng. Pesquisa feita na rede municipal do Rio mostrou que um em cada três alunos sofre de agressões físicas e psicológicas por colegas. No passado isso não devia ser diferente. E é fato que nem por isso surgiu uma geração de psicopatas assassinos de crianças.

Antes, porém, de entrar nessa discussão, que considero necessária e já explico por que, é preciso termos muito cuidado para que ela não acabe por legitimar o discurso louco do monstro de Realengo, que tentou justificar o injustificável deixando cartas e vídeos em que dizia que sua ação insana se deveu ao fato de ter sido “bulinado” no colégio. Mentira. Não devemos cair nessa armadilha. O assassino era um psicopata covarde e ponto.

Isso posto, vamos ao que interessa: por que temos que encarar o bullyng com um cuidado que não tínhamos no passado? 

Em primeiro lugar, porque o mundo mudou. Temos hoje a Internet, capaz de potencializar exponencialmente o grau de humilhação imposta pelos valentões das escolas, que se aproveitam de alguma fragilidade alheia para, numa atitude comum do ponto de vista psicológico, firmar uma suposta liderança sobre o grupo.

Em segundo lugar, porque o grau de violência que se vê hoje parece ser muito maior do que a que convivemos na nossa infância. No meu tempo, o gordinho era chamado de bujão, a magrela, de Olívia Palito; a loura, de parafina; o negro era feijão e o ruim de bola, perna de pau. Hoje, esses apelidos aparentemente inocentes muitas vezes vêm acompanhados de agressões físicas e psicológicas severas, coisa que não me recordo ter presenciado em meus tempos de garoto. E, quando isso ocorre, é preciso, sim, estar atento.

Por isso, a Alerj aprovou ano passado projeto de minha autoria que obriga as escolas a notificarem as autoridades – no caso, delegacias e Conselho Tutelar, sobre casos de bullyng em colégios. Sem divulgação e campanhas de conscientização esclarecendo a razão da medida, a Lei 5.824/2010 tornou-se letra morta, mais uma que caiu no ostracismo do esquecimento. 

Mas ainda é tempo. Devemos levar essa discussão aos colégios, reunir estudantes, pais, educadores, autoridades e fazer uma discussão franca sobre qual o limite das “brincadeiras” entre crianças e adolescentes. E que fique claro: isso não será feito como consequência da tragédia de Realengo, mas sim porque impor limites e estimular a convivência saudável entre seres humanos faz parte da boa educação. O bullyng, quando passa do limite do aceitável, prejudica o desempenho escolar da criança, afeta a sua alegria de viver. Professores, pais, psicólogos, inspetores e os próprios alunos devem ficar atentos a esses sinais. Todos nós somos responsáveis. Não dá para continuar achando que bullyng é normal. 

Publicado pelo jornal O Globo, em 3 de maio de 2011.

Veia mais:

Veja a lei publicada no Diário Oficial de 21/9/2010

Matéria publicada no jornal O GLOBO

Matéria publicada no jornal Destak

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