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Olhos de águia em áreas verdes

Olhos de águia em áreas verdes

Durante sobrevoo, operação do Inea identifica desmatamento em quatro pontos da cidade

O Instituto Estadual do Ambiente (Inea) identificou quatro áreas em que foram cometidos crimes ambientais em Niterói. Os flagrantes foram possíveis na última terça-feira, quando fiscais sobrevoaram pontos de desmatamento identificados por satélites, como Morro da Viração, uma unidade de conservação. Lá, no primeiro endereço a ser checado, inclusive com o auxílio de uma equipe em terra, dois operários foram surpreendidos com a interdição da obra que executavam. Além de não ter autorização para a ampliação do imóvel, o proprietário desmatou, segundo os agentes de fiscalização, um paredão cujas copas das árvores impediam a vista privilegiada para a Região Oceânica. Marcos Loureiro, um dos coordenadores da ação, chama a atenção ainda para o risco de desabamento: “O solo ficou completamente desprotegido”.

Dez horas da manhã. Enquanto um helicóptero sobrevoa o Morro da Viração, em Charitas, fiscais do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) chegam à entrada de um sítio na Estrada Nossa Senhora de Lourdes. Ao entrar no terreno, no topo da montanha, não é difícil encontrar indícios de um crime ambiental. Durante a obra de ampliação de uma casa, houve a retirada de 400 metros quadrados de vegetação nativa numa encosta. O motivo? As árvores atrapalhavam a visão privilegiada de boa parte da Região Oceânica, com suas praias e lagoas de Piratininga e Itaipu.

Marcos Loureiro, um dos coordenadores da ação, explica que, além do dano ambiental, a atitude provoca um outro problema:
— Agora, há risco de um deslizamento junto à base da casa porque o solo ficou completamente desprotegido. Pelo diâmetro dos restos de troncos que encontramos, essas árvores deveriam ter mais de 40 anos de vida.

A CADA CORTE, ALERTAS SÃO EMITIDOS

O proprietário do imóvel não estava no local, mas dois pedreiros que trabalhavam na obra, antes de serem levados à delegacia como testemunhas, não esconderam a surpresa ao verem, num lugar tão escondido, a equipe formada por agentes do Inea e da Secretaria estadual do Ambiente, com o apoio do 12º BPM (Niterói) e do Comando de Policiamento Ambiental (CPAm).

A localização exata só foi possível graças ao programa Olho no Verde, que usa imagens de quatro satélites no monitoramento das unidades de conservação e de florestas no estado do Rio. Os técnicos compararam a imagem da área gerada em agosto do ano passado com outra registrada em janeiro. Para a subsecretária de Meio Ambiente de Niterói, Amanda Jevaux, a ação é fundamental para o município, que tem 42,42% do território coberto por áreas verdes.

— Não existe mais ponto de desmatamento invisível. A eficácia das últimas operações pode medida pelo aumento do número de pedidos de simples podas de árvores que recebemos. Há semanas que chegam até dez solicitações — diz ela.

Isso porque toda vez que um corte de árvores é identificado nas imagens, são emitidos alertas. Desde o início do programa, em 2016, foram gerados 23 alertas para a região de Niterói, totalizando cerca de 4,8 hectares de área. A partir das vistorias, foram constatadas retiradas irregulares de vegetação em dez pontos, que resultaram na autuação de seis proprietários.

As outras supressões continuam sob monitoramento para identificação dos autores, como o do sítio de Charitas — até o fechamento desta edição, ele não havia sido localizado nem procurado as autoridades para dar explicações. Além do corte ilegal de vegetação nativa, ele não tinha autorização da prefeitura para ampliar a casa, que teve a obra embargada.

A área do Parque Natural Municipal de Niterói (Parnit) não foi a única visitada pelos fiscais. Na operação desencadeada na última terça-feira, 24 agentes se dividiram em quatro grupos e percorreram 11 pontos definidos pelas imagens de satélite e por sobrevoos de reser conhecimento. Além do sítio, em outros três locais ficaram indentificadas intervenções irregulares com perda de cobertura florestal.

No Badu, perto da Estrada Guilhermina Bastos, foi localizado um aterro clandestino, onde eram jogados resíduos de construção civil. Ficou constatado que tanto a vegetação local quanto um curso d’água foram afetados. No momento da vistoria, não foi possível identificar o autor da irregularidade.

Em Várzea das Moças, os agentes concluíram que um colégio particular alterou as características de 250 metros quadrados de um sub-bosque, impedindo a regeneração do ambiente numa zona de amortecimento do Parque Estadual da Serra da Tiririca. A instituição de ensino informou que, no recurso da multa sugerida pelo Inea, vai apresentar as documentações que autorizam a “limpeza de terreno para trabalhos de topografia”.

MONITORAMENTO CONSTANTE

Já em Jurujuba, três empresas de ônibus que usam uma área para estacionamento foram notificadas a apresentar, esta semana, autorizações para a retirada de vegetação em parte dos fundos do terreno, cujo proprietário ainda não foi localizado. O subsecretário estadual do Ambiente, Rafael Freitas, explica que, desde 2016, foram feitas mais de 400 intervenções em todo o estado. Sessenta por cento delas resultaram em algum tipo de autuação.

— Em 2016, tivemos 75 hectares de supressão ilegal de área verde em todo o estado. No ano passado, foram menos de 50 hectares. A cada operação como essa há um efeito inibidor porque a população percebe que há um monitoramento constante — conclui ele.

Na saída dos agentes do Morro da Viração, um homem, que não quis se identificar, procurou os fiscais do Inea e disse ser o dono do terreno onde o helicóptero usado na ação pousou. A única pergunta demonstrou sua preocupação: — Vocês não encontraram nada de errado ali, não, né?

Fonte: Jornal O Globo - Caderno Niterói - Dia 11/03/2018
 

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