Segundo o coordenador da Cicca, coronel José Maurício Padrone, legislação é branda contra os traficantes de animais silvestres
O número de répteis apreendidos no estado do Rio de Janeiro aumentou 458% em 2015 em comparação com o ano de 2014. Foram 67 répteis resgatados ano passado contra 12 no ano anterior. Os dados são do balanço anual da Coordenadoria Integrada de Combate aos Crimes Ambientais (Cicca) e do Comando da Polícia Ambiental da PM (CPAm). Ainda segundo os órgãos, houve também o aumento no número de aves silvestres apreendidas: 4.205 em 2015, um aumento de 3,5%. Já de mamíferos, houve uma queda de 89%.
Apesar da intensificação do trabalho e as inúmeras operações contra o tráfico dos animais, a legislação atual “não ajuda”, pelo menos é o que diz o coordenador da Cicca, Coronel José Maurício Padrone, quando questionado sobre a efetividade do trabalho em termos de resultado. No ano passado, 627 pessoas foram pressas em flagrante vendendo ilegalmente animais silvestres.
“A legislação ambiental é muito branda para o crime de venda ilegal de animais silvestres, detenção de seis meses a um ano e multa. O problema maior é que ela estabelece a mesma penalidade para todos, não distinguindo a vovó que tem um papagaio em casa de um grande traficante de animais silvestres. Os traficantes de animais utilizam várias técnicas para burlar a fiscalização e muitos foram presos dezenas de vezes. Por ser considerado um crime de pequeno potencial ofensivo, a pena prevista não é a restritiva de liberdade, ou seja, não fica preso”, explica o Coronel, com seus mais de 30 anos trabalhando na repressão ao tráfico de animais silvestres.
Operações são realizadas pela Cicca e o CPAm em todo o estado, principalmente nas feiras. Em Alcântara e Neves, em São Gonçalo, locais onde existe a presença de traficantes de animais silvestres, o cuidado é maior. Mas ainda segundo o Coronel, eles só colocam animais a venda porque existe comprador, é preciso conscientização.
“Essas operações em feiras são necessárias, mas ao mesmo tempo é enxugar gelo. Pelo menos enquanto não houver conscientização das pessoas. Poucas se escandalizam por ver pessoas carregando gaiolas com pássaros retirados da natureza e até mesmo presenciam com naturalidade armadilhas para captura de pássaros (alçapão)”, disse.
As espécies mais comuns em apreensões são as aves canoras, como coleiro, trinca-ferro, canário da terra, sanhaçu, tiziu e sabiá das laranjeiras.
“Um pássaro cantando na natureza pertence a todos e não só de quem pega primeiro.
É muito mais importante a educação ambiental do que a fiscalização. Mas o ideal são as atividades de educação e fiscalização em conjunto. Precisamos sempre o apoio da população”, salienta o coronel, lembrando que a Cicca está utilizando crianças para fazer a soltura dos animais que foram apreendidos.
“A iniciativa de reunir crianças para soltar os pássaros é a melhor forma de promover a educação ambiental, além de ser uma excelente experiência interativa, onde certamente essas crianças servirão de agentes multiplicadores para mudar a cultura da retirada de pássaros da natureza para criá-los em cativeiros. Através dessas crianças, estamos devolvendo os animais para o lugar de onde eles jamais deveriam ter saído. A retirada criminosa destes animais da natureza interrompe a cadeia alimentar e causa inúmeros prejuízos para a fauna, já que muitos deles são responsáveis pela dispersão de sementes”, finaliza.
A Secretaria de Estado do Ambiente fez um convênio com o Disque Denúncia e a Cicca capacitou atendentes especializados para receberem denúncias de crimes ambientais. As denúncias podem ser feitas pelo telefone 2253-1177 (região metropolitana) e 0300 253 1177 (no interior). O anonimato é garantido.
Fonte: David Tavares
Jornal O Fluminense