Criado há cerca de cinco anos, o Projeto Água do Rio das Flores, mantido pelo Instituto Estadual do Ambiente (INEA-RJ) continua em funcionamento. Com a premissa de ajudar na recuperação deste importante rio, principal fonte de abastecimento da sede do município, o projeto busca trabalhar na recuperação de nascentes e matas ciliares. O Jornal Local conversou com Rynaldo Santos, coordenador do Núcleo de Educação Ambiental do UNIFAA, instituição responsável pela manutenção do projeto. Além disso, a reportagem entrevistou um dos produtores, que elogiou a iniciativa e falou de seus benefícios. Segundo Rynaldo, o projeto foi iniciado de forma operacional, em 21 de junho de 2016, visando promover a recuperação de nascentes e matas ciliares na bacia do rio das Flores, principal manancial de abastecimento público do município de Valença, de modo a assegurar a oferta de água em quantidade e qualidade para a atual e futuras gerações. Ele conta que o Água do Rio das Flores atuava com ações de identificação e prospecção de áreas estratégicas para contribuição hídrica no município de Valença, que se subdividiram em várias etapas:
1) Identificação da área e do proprietário rural;
2) Estudo de campo;
3) Sensibilização e autorização do proprietário rural;
4) Construção das propostas;
5) Submissão das propostas ao INEA;
6) Destinação das áreas para as ações de reflorestamento; e
7) Monitoramento e controle dos resultados esperados.
“Em minha opinião, a principal iniciativa é a oportunidade de estarmos trabalhando em um projeto que envolve diferentes segmentos da sociedade. A matemática ambiental é abordada de forma leve, coerente com a legislação e com a participação de todos os envolvidos: Poder público estadual e municipal, iniciativa privada, instituição de ensino superior, representando o terceiro setor através das ações de extensão acadêmica e o mais importante, as pessoas físicas, proprietários rurais somando forças para algo maior, algo para a presente e futuras gerações”, conta o coordenador.
Rynaldo fala do número de produtores beneficiados e explica o conceito de produtor. “Na verdade, essa denominação genérica ‘produtores’, precisa ser bem colocada, pois nem todos produtores rurais são proprietários de área rural, assim como nem todos os proprietários rurais são produtores. No caso do projeto em questão, nós trabalhamos diretamente com os proprietários do imóvel rural, considerando que é ele o detentor da terra, e é ele quem pode autorizar o reflorestamento em sua propriedade. Dito isso, hoje são 43 proprietários ou detentores de imóvel rural participando do projeto”. Segundo ele, a participação dessas pessoas, em primeira instância, é a vontade de receber o projeto. A partir do entendimento das metodologias aplicadas nas áreas, esses proprietários destinam a área de interesse, para o reflorestamento. E se comprometem em não utilizar essa área para fins edificantes ou mesmo de produção animal. “O maior benefício, em minha opinião, é a assistência técnica que eles recebem da equipe técnica do projeto, seguindo logicamente pela recuperação florestal das áreas destinadas ao reflorestamento. Hoje somamos mais de 380 hectares de área plantada e passando por monitoramento e manutenção florestal. Isso representa mais de 633 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica inseridas em áreas identificadas como prioritárias e destinadas pelos proprietários rurais. Os benefícios são diversos, além dessas áreas se enquadrarem na legislação, com suas App’s (Áreas de Preservação Permanente) e Reserva Legal adequada ao Código Florestal, eles são assistidos quanto ao cumprimento da legislação, regularização do Cadastro Ambiental Rural – CAR e Cadastro Nacional de Usuário de Recursos Hídricos – CNARH. Outro benefício importante é a oportunidade da possível participação da propriedade ao Projeto Conexão Mata Atlântica, que prevê apoio e incentivo financeiro para o desenvolvimento de ações sustentáveis no interior da propriedade rural”.
A área atingida, segundo Rynaldo, é a bacia hidrográfica do rio das Flores, que nasce na região de Ipiabas, em Barra do Piraí, e vai até os fundos do Esquadrão Tenente Amaro, área do quartel de Valença. Ao longo desses quase cinco anos de projeto, foram visitadas, de acordo com ele, mais de cem propriedades rurais, abordando, esclarecendo e sensibilizando proprietários e produtores rurais a estarem conosco nesse propósito. “Percorremos os mais de dezesseis mil hectares identificando as áreas de maior vulnerabilidade e que deveriam receber as ações de recuperação florestal para os 610 hectares destinados ao projeto”.
Q u a n t o ao número de nascentes recuperadas, ele aponta que se trata de informação ainda a ser conhecida. “E a resposta somente será possível com um pouco mais de tempo. Lembro que quando se trata de meio ambiente, isso envolve uma série de fatores. Faço aqui uma simples analogia com o corpo humano. Cada ser humano pode responder de diferentes maneiras utilizando um mesmo medicamento. Igualmente é na natureza. Cada área responde de uma forma. Plantamos e protegemos mais de cem nascentes ao longo desses anos de projeto, no entanto, não se trata de uma razão exata, precisamos focar nas manutenções, acompanhar a resposta de cada área. Proteger essas áreas de incêndios e dos animais de grande porte”. Outra questão que também só poderá ser esclarecida no futuro, aponta Rynaldo, é se houve real melhoria na vazão do rio. “Como disse anteriormente, tudo irá depender da resposta que cada área florestada e protegida irá nos dar. Esse estudo de vazão hidrológica envolve características muito específicas. O projeto não está contemplando isso nessa etapa. O que temos de fato é a relação do aumento e manutenção da recarga hídrica em regiões onde existe uma maior quantidade de floresta. São inúmeros os estudos científicos que comprovam a associação de áreas de floresta com a produção de água”. “Esse trabalho jamais seria possível se não houvesse um comprometimento por parte das pessoas que abriram suas porteiras para nossa chegada. É fundamental essas ações conjuntas com envolvimento dos diferentes segmentos da sociedade, afim de buscarmos um meio ambiente mais equilibrado onde a função social, geração de emprego e renda e proteção ambiental sejam o maior sinônimo de sustentabilidade e o maior patrimônio ambiental da nossa sociedade.
Aproveito também para externar minha gratidão às empresas, reflorestadoras que geraram na região mais de oitenta postos de trabalho de forma direta. Trabalhadores rurais, contratados formalmente para a implantação dos trabalhos de restauração florestal”, concluiu.
Produtor fala de benefícios do Água do Rio das Flores
Valença - José Walter Machado Lima tem 64 anos é proprietário do Sítio Santana, na Estada ValençaConservatória, Km 10. Ele está no projeto Água do Rio das Flores desde sua implantação. E conta como foi que começou a participar e quais benefícios vieram após entrar no projeto. “Fui procurado pela equipe da FAA, o Rynaldo e o Marcelo. Eles me explicaram sobre o objetivo do projeto. Que é a proteção das nascentes que contribuem para o abastecimento do rio das Flores. Foram identificadas algumas nascentes em minha propriedade. Elas foram mapeadas e as áreas dessas nascentes foram enviadas para aprovação pelo INEA. Em seguida foi dado o início ao plantio com árvores nativas da Mata Atlântica. O projeto é muito interessante, ele foi implementado com base num tripé: empresa, que deveria cumprir a compensação ambiental, INEA – que é o órgão ambiental do Estado do Rio e o produtor rural que cede as terras para implantação. E o melhor de tudo, para nós proprietários e produtores, que a Fundação, que é uma instituição local, foi quem coordenou essas ações, fazendo o link dos três, para que o projeto fosse implementado aqui, na nossa cidade, na nossa região”. O principal apoio durante o trabalho veio da coordenação da UNIFAA, conta ele. “Através dos meninos, o Rynaldo e o Marcelo que garantiam, junto lá com o pessoal do INEA, que os recursos da empresa chegassem até as propriedades e fossem utilizados no reflorestamento. E também para que nós produtores entendêssemos o projeto. Acho que dessa forma até facilitou para o órgão fiscalizador, o INEA, que fosse informado e exigisse o cumprimento das regras junto às empresas responsáveis pelo plantio das mudas”.
Benefícios
“Os principais benefícios obviamente foram a proteção de nascentes e junto a recuperação das áreas degradadas no seu entorno com plantio de florestas nativas, que caso não fosse feita, resultaria em perdas inevitáveis dessas nascentes. E como água é vida as consequências são previsíveis. Teria sido a morte das nascentes”. Para o produtor, a proteção de nascentes vai trazer a garantia de fornecimento e abastecimento de água limpa para Valença. Principalmente para as próximas gerações. “São essas nascentes que abastecem o Rio das Flores. E é esse rio que abastece Valença. Para quem ainda não sabe, é bom ficar de olho nas nascentes. Pois se as nascentes secarem, Valença, em sua sede também morrerá”. José Walter destaca que a crise hídrica chegou as nossas portas e o problema não pode ser mais adiado. “Veja a crise de abastecimento do Rio de Janeiro, somos obrigados a tratar esgoto para ter água. Isso enquanto tiver esgoto. Nascentes protegidas é garantia de água e água limpa. Água limpa é a garantia de vida para tudo e para todos”.